quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Encarnação: Remédio Apropriado à Nossa Miséria. Nossos Méritos São Dons de Deus


A Encarnação: Remédio Apropriado à Nossa miséria. Nossos Méritos São Dons de Deus

Há alguns que nos perguntam: Faltou a Deus outro modo de libertar o homem da miserável condição de sua mortalidade? Somente pode realizá-la fazendo com que o seu Filho Unigênito, coeterno com Ele, se tornasse homem, revestindo-se de carne e alma humanas e, como mortal, sofresse a morte? Seria pouco refutá-los dizendo que esse modo pelo qual Deus dignou-se libertar-nos por meio do Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, é bom e conveniente À dignidade divina. E seria ainda pouco responder-lhes que não faltaram outros modos possíveis a Deus a cujo poder estão submetidas todas as coisas. No entanto, devemos demonstrar-lhe que não havia e nem convinha que houvesse outro processo mais adequado para curar nossa miséria.

O que havia, pois, de mais necessário para erguer nossa esperança e libertar do desespero da mortalidade, as almas dos mortais, humilhados pela condição de sua mortalidade, do que demonstrar-nos o quanto contamos para Deus e o quanto ele nos ama? Existirá um sinal dessa verdade mais claro e brilhante do que este: O Filho de Deus, bondade imutável, permanecendo em si mesmo o que era e recebendo de nós, por nós, o que não era, sem detrimento de sua natureza, ter-se dignado associar-se à nossa natureza e ter carregado sobre si nossos males, sem que tenha cometido mal algum? E em sua indevida liberalidade ter outorgado seus dons a nós que acreditamos agora quanto Deus nos ama e esperamos doravante aquilo de que já desesperávamos, e isso sem nenhum merecimento de nossa parte, pelo contrário, apesar do peso de nossas más ações?

Pois mesmo os assim denominados nossos merecimentos são dons de Deus. Pois para que a fé atuasse pela caridade (Gl 5:6), o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos é dado (Rm 5:5), Ora ele não nos foi dado senão quando Cristo foi glorificado pela ressurreição. Só então Jesus prometeu que o enviaria e o enviou (Jo 20,22; 7,39 e 15,26). Antes disso, como dele está escrito e predito: Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando éramos ainda pecadores. Quanto, mais então agora, justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira (Rm 5,8-9). Acrescenta ainda. Pois, se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais agora, uma vez justificados, seremos salvos por sua vida (Ib. 5,10).

Aqueles que chama primeiramente pecadores, depois os chama de inimigos de Deus. E aqueles aos quais diz primeiramente justificados pelo sangue de Jesus Cristo, depois os chama de reconciliados pela morte do Filho de Deus. E em seguida, a dizer: por ele salvos da ira, diz depois: salvos por sua vida. Antes de nos ser dada essa graça, não éramos simples pecadores, mas nossos pecados eram tantos, que nos tornavam inimigos de Deus. Ora, um pouco antes, o mesmo Apóstolo, por diversas vezes, chama-nos de pecadores e inimigos de Deus, com dois nomes bem diferentes. De certo modo, um muito suave e outro deveras severo, ao dizer: Foi, com efeito, quando ainda éramos fracos que Cristo, no tempo marcado, morreu pelos ímpios (Rm 5,5). Os fracos chama-os depois de ímpios. “Fraqueza” parece ser um termo benigno, mas às vezes é de tal modo essa fraqueza que merece ser chamado impiedade. Entretanto, se não existisse de nosso lado a fraqueza não haveria necessidade de médico. É o que significa em hebraico: Jesus. Em grego: “Sóter”. E em nosso idioma: “Salvador”. A língua latina desconhecia esse termo, mas podia adotá-lo, como o fez quando o quis. Ora essa última sentença do Apóstolo, quando diz: quando ainda éramos fracos, no tempo determinado, Cristo morreu pelos ímpios, concorda com as duas seguintes, numa das quais nos chama de “pecadores”, na outra “inimigos de Deus”, como se quisesse equiparar termo com termo, pecadores aos fracos, e inimigos de Deus, ao ímpio.

Agostinho de Hipona, citação tirada do Livro “A Trindade” pag. 413-415.


“Por ocasião da queda, os dons naturais do homem foram corrompidos pelo pecado, enquanto seus dons sobrenaturais perderam-se completamente.” (Agostinho)

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"O Justo sobre a cruz é o único ponto de contato entre o pecador e o poder salvador de Deus."

(Lewis Sperry Chafer)

 
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